"UM HISTÓRICO DE AUDÁCIA"
Relendo a obra de Jurandir da Cruz Xavier, Poxoréo e o Garças, edições Calendário do Sol, constatamos efetivamente que o resgate histórico da colonização de Poxoréu nos possibilita concluir que sua criação foi permeada por audácia, determinação e coragem, diante dos combates, opressões e lutas empreendidas pelos desbravadores da região, mormente pelo grande sertanista Antônio Cândido de Carvalho, conhecido por “O sertanista audaz”.
Segundo relato do mencionado autor “o
povoamento desta linda e rica região exigiu dos seus descobridores e primeiros habitantes, ações ousadas, além de muita obstinação e persistência” (op. cit., pág. 10).
Dessa colonização, preponderantemente nordestina, herdamos a ousadia, coragem e determinação, suas características mais marcantes, pois o nordestino realmente é um valente. Essa história combativa, esse passado de coragem é o diferencial do nosso povo; como herança temos sangue de nordestino correndo nas veias, e isso é nato do poxoreense, parafraseando o nordestino, concluimos que o Poxorense também “é um cabra da peste”.
Feito esse intróito, me reporto aos idos dos anos 80, período muito marcante na minha adolescência, logo quando o professor Neuvany iniciou os primeiros treinamentos de voleibol para as equipes feminina e masculina de Poxoréu. Treinamentos esses ministrados no centro esportivo, para onde íamos a pé, geralmente sob o escaldante sol da tarde, mas felizes e cheios de expectativas.
Aos finais de semana nos reuníamos no Centro Juvenil para um “rachinha”, a quadra ainda era de areia. Surgiu então a oportunidade de termos uma quadra de cimento ali mesmo no Centro Juvenil, havia se conseguido os materiais para a construção da quadra, mas tínhamos que “por a mão na massa”, a construção da quadra se daria sob a forma de mutirão.
Foi então que surgiu uma união indescritível de jovens e adolescentes comandados pelo professor Neuvany e Adolfo Catalá para realizarmos o nosso sonho. Os jovens integrantes das equipes de vôlei, salão e handebol colocaram a “mão na massa”, não medindo esforços para a construção da quadra do centro juvenil. Para os homens ficaram as atribuições mais pesadas, como fazer a massa, carregá-la e preencher cada quadrado que formaria a nossa quadra. Às mulheres coube a missão de fazer o lanche, varrer toda a sujeira acumulada e lavar a quadra e as arquibancadas quando enfim ficassem prontas. Todos os sábado nos reuníamos para esse trabalho, era um compromisso inadiável onde todos compareciam com muita satisfação.
Enfim a quadra do Centro Juvenil ficou pronta! A quadra "Armando Catrana", linda e perfeita, de causar inveja a muitos profissionais altamente gabaritados. Passamos então a usufruir dessa quadra transferindo para ali os treinamentos e onde pudemos enfim realizar torneios e campeonatos.
O fato de termos participado de todo esse processo de construção, de ter vivenciado todas essas dificuldades só nos trouxe determinação e crescimento. Nasceu então dali as equipes de voleibol feminino e masculino de Poxoréu que marcaram gerações de vitórias.
Nos primeiros jogos regionais realizados em Rondonópolis, a equipe masculina de voleibol (tendo como integrantes: Neguinho, Nélio, Tonho, Marcos, Mazinho, Reinaldo Sol, Jarbas, dentre outros) foi campeã, disputando uma final emocionante com a equipe da casa. Quando retornamos a Poxoréu fomos recebidos com festa na Rodoviária, que estava lotada. Nossa chegada foi inclusive motivo de dispensa dos alunos das escolas. A vitória teve grande repercussão na mídia.
Essa foi apenas a primeira vitória de uma grande série. Passamos a ser temidos pelas demais equipes do Estado e quando estávamos em quadra, era comum sermos chamados pelos adversários de a “equipe de GARIMPEIROS”, numa clara manifestação de menosprezo. Inúmeras vezes ouvimos das arquibancadas que “lugar de garimpeiro é nas dragas”. Mas essas palavras funcionavam como injeção de ânimo para o nosso sangue nordestino e nos davam forças para buscarmos a vitória.
Lembro-me que para participarmos dos jogos, sempre íamos com parcos recursos e os nossos uniformes também eram dos mais modestos. Continuamente íamos de ônibus de linha, ou quando fretado, era apenas para levar e buscar as equipes até a cidade onde os jogos seriam realizados. Sofríamos porque as demais equipes, de municípios mais ricos tinham ônibus integralmente à disposição para levá-los até os locais dos jogos . Nós íamos a pé do alojamento até o local dos jogos, ainda ouvindo humilhações das outras equipes que passavam de ônibus no caminho; por exemplo em um dos jogos realizados em Rondonópolis, ficamos alojados na Vila Operária, tendo que andar até o EEMOP onde os jogos estavam sendo realizados. O que era trágico acabou ficando cômico e em um dos jogos realizados em Sinop/MT, por inúmeras vezes pegamos carona em uma “carroça” de um simpático senhor que sempre passava no mesmo horário.
Entretanto, essa pseuda precariedade logística e material não representou qualquer obstáculo no nosso caminho, pois tínhamos os recursos mais valiosos ao ser humano: a raça, coragem e determinação; tínhamos recursos pessoais, e isso é o efetivamente faz a diferença na balança, a nossa seleção brasileira de futebol é o melhor exemplo desse fato. Em momento algum nos sentimos inferiorizados ou diminuídos diante das outras equipes, pelo contrário, crescíamos em quadra.
Como resultado de todo esse processo, as audazes “equipes dos garimpeiros” foram campeãs regionais por mais de quatro anos e vice-campeãs dos jogos estaduais, em diversas ocasiões, perdendo a invencibilidade apenas para Cuiabá.
Da equipe das “garimpeiras”, as duas principais jogadoras, Neta e Luciane Tremura (Lu) foram convocadas para jogar na seleção Mato-grossense de voleibol, tendo representado o Estado nos jogos Brasileiros em Belo Horizonte/MG, sendo que a Neta foi considerada à época uma das melhores jogadoras do Estado.
Da equipe dos “garimpeiros” , o Neguinho, Tonho (Inha, considerado o melhor levantador do Estado), Elvis (Ica) e Hildelbrando também foram convocados para a seleção Mato-Grossense. O Neguinho, entretanto, eleito em duas ocasiões o melhor atacante do Estado, por falta de condições econômicas não pode participar dos jogos brasileiros. Os demais representaram o Estado em jogos brasileiros realizados em Belo Horizonte e São Paulo, levando um pouco da garra e determinação dos poxoreenses. Destaca-se também o talento e atuação do Nélio, o “Nelhão”, temido pelos adversários, pois era detentor de uma das “cortadas” mais potentes do Estado, chegando em uma ocasião a derrubar o adversário com uma “medalha” no peito.
Desse simples exemplo da época de adolescência, podemos extrair uma grande lição, já registrada nos livros que contam a história da nossa cidade: somos um povo forte, destemido e audaz, recursos pessoais esses, que dinheiro algum consegue comprar!
Dessa colonização, preponderantemente nordestina, herdamos a ousadia, coragem e determinação, suas características mais marcantes, pois o nordestino realmente é um valente. Essa história combativa, esse passado de coragem é o diferencial do nosso povo; como herança temos sangue de nordestino correndo nas veias, e isso é nato do poxoreense, parafraseando o nordestino, concluimos que o Poxorense também “é um cabra da peste”.
Feito esse intróito, me reporto aos idos dos anos 80, período muito marcante na minha adolescência, logo quando o professor Neuvany iniciou os primeiros treinamentos de voleibol para as equipes feminina e masculina de Poxoréu. Treinamentos esses ministrados no centro esportivo, para onde íamos a pé, geralmente sob o escaldante sol da tarde, mas felizes e cheios de expectativas.
Aos finais de semana nos reuníamos no Centro Juvenil para um “rachinha”, a quadra ainda era de areia. Surgiu então a oportunidade de termos uma quadra de cimento ali mesmo no Centro Juvenil, havia se conseguido os materiais para a construção da quadra, mas tínhamos que “por a mão na massa”, a construção da quadra se daria sob a forma de mutirão.
Foi então que surgiu uma união indescritível de jovens e adolescentes comandados pelo professor Neuvany e Adolfo Catalá para realizarmos o nosso sonho. Os jovens integrantes das equipes de vôlei, salão e handebol colocaram a “mão na massa”, não medindo esforços para a construção da quadra do centro juvenil. Para os homens ficaram as atribuições mais pesadas, como fazer a massa, carregá-la e preencher cada quadrado que formaria a nossa quadra. Às mulheres coube a missão de fazer o lanche, varrer toda a sujeira acumulada e lavar a quadra e as arquibancadas quando enfim ficassem prontas. Todos os sábado nos reuníamos para esse trabalho, era um compromisso inadiável onde todos compareciam com muita satisfação.
Enfim a quadra do Centro Juvenil ficou pronta! A quadra "Armando Catrana", linda e perfeita, de causar inveja a muitos profissionais altamente gabaritados. Passamos então a usufruir dessa quadra transferindo para ali os treinamentos e onde pudemos enfim realizar torneios e campeonatos.
O fato de termos participado de todo esse processo de construção, de ter vivenciado todas essas dificuldades só nos trouxe determinação e crescimento. Nasceu então dali as equipes de voleibol feminino e masculino de Poxoréu que marcaram gerações de vitórias.
Nos primeiros jogos regionais realizados em Rondonópolis, a equipe masculina de voleibol (tendo como integrantes: Neguinho, Nélio, Tonho, Marcos, Mazinho, Reinaldo Sol, Jarbas, dentre outros) foi campeã, disputando uma final emocionante com a equipe da casa. Quando retornamos a Poxoréu fomos recebidos com festa na Rodoviária, que estava lotada. Nossa chegada foi inclusive motivo de dispensa dos alunos das escolas. A vitória teve grande repercussão na mídia.
Essa foi apenas a primeira vitória de uma grande série. Passamos a ser temidos pelas demais equipes do Estado e quando estávamos em quadra, era comum sermos chamados pelos adversários de a “equipe de GARIMPEIROS”, numa clara manifestação de menosprezo. Inúmeras vezes ouvimos das arquibancadas que “lugar de garimpeiro é nas dragas”. Mas essas palavras funcionavam como injeção de ânimo para o nosso sangue nordestino e nos davam forças para buscarmos a vitória.
Lembro-me que para participarmos dos jogos, sempre íamos com parcos recursos e os nossos uniformes também eram dos mais modestos. Continuamente íamos de ônibus de linha, ou quando fretado, era apenas para levar e buscar as equipes até a cidade onde os jogos seriam realizados. Sofríamos porque as demais equipes, de municípios mais ricos tinham ônibus integralmente à disposição para levá-los até os locais dos jogos . Nós íamos a pé do alojamento até o local dos jogos, ainda ouvindo humilhações das outras equipes que passavam de ônibus no caminho; por exemplo em um dos jogos realizados em Rondonópolis, ficamos alojados na Vila Operária, tendo que andar até o EEMOP onde os jogos estavam sendo realizados. O que era trágico acabou ficando cômico e em um dos jogos realizados em Sinop/MT, por inúmeras vezes pegamos carona em uma “carroça” de um simpático senhor que sempre passava no mesmo horário.
Entretanto, essa pseuda precariedade logística e material não representou qualquer obstáculo no nosso caminho, pois tínhamos os recursos mais valiosos ao ser humano: a raça, coragem e determinação; tínhamos recursos pessoais, e isso é o efetivamente faz a diferença na balança, a nossa seleção brasileira de futebol é o melhor exemplo desse fato. Em momento algum nos sentimos inferiorizados ou diminuídos diante das outras equipes, pelo contrário, crescíamos em quadra.
Como resultado de todo esse processo, as audazes “equipes dos garimpeiros” foram campeãs regionais por mais de quatro anos e vice-campeãs dos jogos estaduais, em diversas ocasiões, perdendo a invencibilidade apenas para Cuiabá.
Da equipe das “garimpeiras”, as duas principais jogadoras, Neta e Luciane Tremura (Lu) foram convocadas para jogar na seleção Mato-grossense de voleibol, tendo representado o Estado nos jogos Brasileiros em Belo Horizonte/MG, sendo que a Neta foi considerada à época uma das melhores jogadoras do Estado.
Da equipe dos “garimpeiros” , o Neguinho, Tonho (Inha, considerado o melhor levantador do Estado), Elvis (Ica) e Hildelbrando também foram convocados para a seleção Mato-Grossense. O Neguinho, entretanto, eleito em duas ocasiões o melhor atacante do Estado, por falta de condições econômicas não pode participar dos jogos brasileiros. Os demais representaram o Estado em jogos brasileiros realizados em Belo Horizonte e São Paulo, levando um pouco da garra e determinação dos poxoreenses. Destaca-se também o talento e atuação do Nélio, o “Nelhão”, temido pelos adversários, pois era detentor de uma das “cortadas” mais potentes do Estado, chegando em uma ocasião a derrubar o adversário com uma “medalha” no peito.
Desse simples exemplo da época de adolescência, podemos extrair uma grande lição, já registrada nos livros que contam a história da nossa cidade: somos um povo forte, destemido e audaz, recursos pessoais esses, que dinheiro algum consegue comprar!
Cila
foto: arquivo pessoal; equipe do new juventus, torneio de férias, Centro Juvenil. data: 7 de fevereiro de 1984.integrantes: em pé: Valdemir, João Cebola (equipe técnica), Deuzenir, Neta, Neidinha. agachadas: Melquíades (Kida), Aldenice, Lucimar, Vânia e Cila.
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